terça-feira, 11 de abril de 2017

A crise dos 20

   
     Tantos textos, poemas, publicações que já li sobre isto... Identifiquei-me com todos, mas nenhum foi escrito por mim. Nenhum foi testemunho meu, nenhum se baseou na minha história.
     Ainda na pré-adolescência o meu maior desejo era sair de casa dos meus pais, ser independente. 
     Aos 16 comecei à procura de trabalho... Em vão. Os meus pais não autorizaram enquanto eu estivesse a estudar (sempre fui boa aluna, diga-se de passagem). 
     Aos 19 comecei a trabalhar para pagar as minhas propinas, mas ainda vivia debaixo do tecto dos papis e não tinha condições financeiras para sair de lá. 
     Entretanto, chegaram os 20: A fase crítica da minha vida. O que eu tanto ansiava afinal não era um conto de fadas. 
     Comecei a viver sozinha: Primeiro desejo concretizado. Liberdade. Sem horas para sair ou voltar. Sem horas para dormir. Sem satisfações a dar. Parece tão bonito, mas tem as suas consequências. 
     Aí vem a fase dois: Responsabilidades. Eu sabia que ia tê-las, mas saber por outros não é o mesmo que sentir na pele. Não posso dizer que ninguém me avisou. Eu só não acreditei. É como diz a frase "Quando os teus pais te tentarem ensinar, procura aprender, porque a vida não te vai ensinar com o mesmo amor."
     Sempre quis ser dona de mim e não me arrependo das escolhas que fiz, mas às vezes a vida dá-me com cada chuto nas nalgas que até deixo de ver estrelas (no sentido literal), deixo de viver, deixo, e deixo-me ir.
     Crises existenciais, monólogos, mudanças de planos repentinas, vontade de viver e morrer ao mesmo tempo. As amizades escasseiam, os amores já não são prioridade e a família passa agora a ser o nosso refúgio. As noites deixam de servir para ir beber uns copos e passam a ser passadas em casa a tentar dormir, porque no dia seguinte há um trabalho à nossa espera. Trabalho que não gostamos, mas precisamos. Não podemos faltar porque os pais não justificam, não podemos chegar atrasados porque os patrões não perdoam.
     Pensamos como podemos chegar mais longe e qual o melhor caminho para lá chegar.
     Queremos ser felizes, mas não sabemos como. 
     Queremos ter dinheiro, mas não temos escolhas.
     Queremos estudar, mas não temos facilidades.
     E foi para isto que nascemos?
     Quase 25 anos, um quarto de século, e ainda não me encontrei.
     Foi para isto que eu quis crescer? Não! Não foi isto que aprendi na escola. Na escola aprendi a hipotenusa do triângulo, aprendi os cantos d'Os Lusíadas, aprendi que o Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia. Então e quem me prepara para a realidade?
     Quem diz "Olha vai estudar merdas que não vão ser necessárias para a tua vida, tenta encontrar um trabalho na tua área e, se tiveres sorte, pode ser que te paguem uns mil euritos por mês. Vais trabalhar 40 anos da tua vida, com 22 dias de férias por ano e duas folgas por semana, que vais gastar a limpar a casa ou a passar a ferro, como a tua mãe sempre fez. Aos 67, na melhor das hipóteses, poderás reformar-te, se houver reforma para ti, e terás de sobreviver com esses 500 euros até bateres as botas. Mas não te preocupes! Tens meia dúzia de anos para curtir a vida antes de te porem num lar de idosos, que vais ser tu a bancar, porque os teus filhos também não tem dinheiro para essas despesas."?
     E agora eu pergunto-me... Até onde é que vale a pena?